Nos olhos sem íris
o abismo engole o brilho.
Dois globos ocos navegando
o mar raso das olheiras.
Sobre as faces áridas
– sertão acinzentado –
crescem fios ásperos
e desordenados.
Na boca, açude seco,
crocodilíngua ressecada
oculta-se nas lacunas da arcada,
queixada de gado.
Palha seca se espalha no solo.
Ventos quentes do ventre
sopram pelas ventas com ruído.
Está vivo.
Mas é um bioma morto,
destruído.
W.G. Gardel [15/09/2016 – 19/07/2017]