rastros

Se quiser saber de mim
não pergunte ao meus,
que sabem somente o que lhes conto.
Nem busque em meus registros
– analógicos ou virtuais –
que de mim mesmo me escondo.

Pergunte aos meus sapatos por onde andei
e às minhas roupas das saudades
que deixei escapar pelos poros.
Pergunte aos bancos das praças em que sentei
das tardes que me levaram os anos
em tão poucas horas.
Pergunte ao vento dos cabelos
que me obstruíram a visão
me protegendo de ver o inevitável.

Se quiser saber de mim
não procure em meus retratos
que não são senão recortes
meticulosamente planejados.
Não escreva à minha mãe,
nem ligue para o escritório.

Pergunte ao trocador do ônibus
das passagens que pedi fiado
para descer no ponto seguinte
e aos donos de cafés
em que entrei e me sentei, mas bebi somente água.

Ouça os discos riscados e leia os livros gastos
que entulham as minhas estantes
e pergunte a eles como me conhecem tanto
se vieram tanto tempo antes.

W.G. Gardel [30/11/2018]

manchou tua alma?